sábado, 8 de agosto de 2009

A história de Vater - parte I

Um "causo" contado por Ricardo Hein

August Hein, o Vater (que significa Pai em alemão e que se lê "fata") tinha um pai e uma mãe naturalmente mas não se sabe se tinha ou não irmãos... Só que a mãe (não sabemos o nome) morreu e o pai (também não sabemos o nome) casou novamente com uma mulher que também não sabemos o nome. Pelo que sabemos o pai do Vater e essa nova esposa tiveram filhos (parece que filhas) e a madrasta judiava dele e só puxava o saco da sua própria cria. Dizem (e quem dizia isso eram os filhos do Vater, nossos tios e avós) que a mulher pegava pesado no pé dele e um dia, num momento de extrema raiva o Vater jogou um daqueles garfos enormes de pegar feno em direção à madastra, acertando-a na barriga. Pensando que tinha matado a velha, ele fugiu de casa e tomou um trem que estava na estação e ia prá Berlim. Ficou clandestino no trem, se escondendo do fiscal que via quem pagou e quem não pagou, até que de fuga em fuga, chegou na locomotiva tendo sido descoberto pelo maquinista, que era um homem bom, casado e sem filhos... Resumo da ópera: esse maquinista "adotou" o menino August, criando-o como filho. Anos mais tarde o Vater se casou com a Emma Wenzel, teve sete filhos (meu avó Willy, meu tio Ricardo, vô da Leny, tia Martha, tia Luiza, tio João (o tal de Serra Negra), tia Gretchen (a tal que foi para o Canadá) e a tia Maria(a tal que morava em Eldorado, na beira da represa Billings).
Como a situação na Alemanha estava meio assim meio assada (isto é, péssima) ele resolveu aderir a um programa do governo (eu nunca soube se era um programa do governo alemão ou do governo brasileiro) que consistia em cadastrar colonos que estivessem dispostos a ir para o Brasil plantar milho e povoar o interior do Paraná ou de Santa Catarina (esse projeto impulsionou Blumenau, Joinvile e outras cidades "alemãs" que tem por lá, e de onde veio a Ciloca). O Vater, que na verdade era sapateiro, se candidatou como grande plantador de milho (e grande gaiato também) e se mandou prá cá em 1909... Ganhou uma terrinha no norte do Paraná, plantou um monte de milho (o governo dava a terra, as ferramentas e as sementes e garantia comprar os grãos colhidos). Mas parece que o Vater, como plantador de milho, era um ótimo sapateiro e acabou que por A ou B sua plantação pegou fogo e foi-se milharal, casa, semente, e tudo mais...
Com tudo perdido, ele resolveu mudar de vida e foi prá "sumpaulo" que na época já era "o sonho" de quem não morava em São Paulo... Foi ser sapateiro, assunto que manjava. E foi morar na rua José Antonio Coelho, numa casinha de uma amigo de sobrenome Sommer, que veio com ele da Alemanha, mas que não se meteu a lavrador e que tinha algumas posses... uma observação: esse amigo dele, conhecido como Opapa (vovô) Sommer teve vários filhos, um deles, Waldemar Sommer, dentista, que anos mais tarde ensinou o oficio de protético a meu pai, e outro, Vicente Sommer, conhecido com Bruder (irmão em alemão) que ficou muito amigo de meu pai e alugou para o meu pai uma casinha que tinha na rua pelotas onde meu pai, minha mãe, eu e a Rê moramos quase a vida inteira.
Mas voltando à história do Vater... ele foi morar na José Antonio Coelho, paralela da Pelotas, onde a Emma Wenzel morreu de pedra na visícula (ai que medo, pois também tenho umas pedrinhas na visícula...). Dessa casa, pelo que sei, mudous-e para a casa do Itaim, de onde saiu morto, muitos anos depois.
Duas lendas que contam mas a primeira é coisa que acham e a segunda já ouvi mil vezes mas não sei se ocorreu mesmo:
1) talvez quem sabe o sobrenome do Vater nem fosse Hein, que talvez esse fosse o sobrenome do maquinista... mas isso sempre foi apenas uma desconfiança do tio João, pois o Vater se recusava a falar qualquer coisa sobre pai, mãe, irmãos e coisas que ficaram na alemanha...
2) o opapa Sommer propos ao Vater comprar um terreno enorme que a prefeitura estava vendendo para povoar uma região de são paulo onde estavam se instalando muitas famílias de alemães fugidos da guerra. O Sommer não tinha a grana toda, mas se juntasse com os trocados do Vater os dois juntos conseguiriam. Dizem que o Vater foi olhar o lugar e achou u ó, um lixão no fim do mundo e disse: tô fora véio!!! Parece que ele tinha a mesma experiencia na lavoura e no setor imobiliário, pois o tal do terreno que nenhum alemão (todos muito espertos) quis comprar virou mais tarde, em 1954, um tal de parque do Ibirapuera, u ó, um lixão no fim do mundo... O unico alemão que comprou um pedaço do terreno foi um cara que montou lá uma indústria de cera para assoalho - a cera Parquetina, que está até hoje no pedaço, perto da pista de aeromodelismo...
PS - a tal madrasta não morreu, ou seja o Vater não matou a madrasta malvada.

"No prrróxima encarrrnaçon eu acerrrta esse desgrrraçada!"

3 comentários:

Renata disse...

Nossaaaaaaaaa!! Estou impressionada com a história. Nunca soube que meu bisavô havia passado por tudo isto...sou muito lesada no assunto "dos Hein", pois como sabem meu pai não saiu nadinha como a Tia Henny e fala muito pouco (nem com cachaça eu tiro informação dele.....e por isto tenho contribuído tão pouco. Então agradeço muuuuito a minha MARAVILHOSA prima Leny por ter dado início a esta linda história de nossa família. Parabéns Leny, Cláudia (o blog está uma fofura!) e Ricardo (pela pasciência..ts..ts..e) pelo óóótimo texto!!!
AAMMMMMMEEEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!
BjXXXXX...Renata

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Adorei conhecer essa história. Super bem contada.
Essa idéia de juntar as pecinhas dos Hein, vai me ajudar muito. Já tenho como contar para minha filha Paula nossa origem. Valeu mesmo! Parabéns... Cláudia e Tatjana.
Valéria Angeli Hein

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