quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pauline van der Meer

(depoimento de Leny Hein)
Para que vocês se localizem no quem é quem: Pauline era irmã de Anna van der Meer. Veio para o Brasil junto com as outras irmãs, nunca se casou e nem teve filhos. Era tia de meu pai e minha tia-avó.




Tia Paulina era uma pessoa encantadora dessas que sempre tinha a palavra certa na hora certa, que só tinha bons pensamentos e boas ações. Tive a sorte de tê-la bem presente em minha infância. Ela morava sozinha num apartamento pequeno na rua Bartolomeu Portela, em Botafogo, no Rio de Janeiro, bem perto de Copacabana, onde na época, morava com meus pais.

Ela era terapeuta e suas massagens eram ótimas, pois tinha mãos de anjo. Quando nasci, tive um problema com meu lado esquerdo, que saiu atrofiado. Os médicos diagnosticaram como sendo um princípio de paralisia infantil. Minha mãe me levou a muitos médicos e fiz inúmeros tratamentos para tentar minimizar esse problema, desde choques, regressão com hipnose e não sei mais o que. Como também recomendavam muito exercício, fiz ballet e natação...

[momento esnobe: fiz natação (de graça) na piscina do Copacabana Palace (ao lado de casa), tendo como
professora Maria Lenk campeã brasileira inúmeras vezes e – vejam que importante – atualmente nome de estádio em Jacarepaguá]

Outra coisa que os médicos sempre recomendavam era fazer massagens na perna atrofiada, coisa complicada para nós, pois isso era muito caro. É aí que voltamos à tia Paulina, que era massagista. Quase que diariamente ela vinha em casa e fazia massagens na minha perna. Graças a isso, apesar de ter uma perna um tiquinho menor que a outra e por isso mancar um pouco fiquei bem melhor do que teria ficado.

Tia Paulineta! Ah, como gostava de visitá-la. De sua casa, uma lembrança forte, era a cômoda em seu quarto. No tampo havia um vidro, e por baixo do vidro, dezenas de fotos... Sempre que ela me via olhando as fotos, apontava com o dedo e dizia “esse é fulano, este é beltrano...” e eu, hoje, não consigo lembrar nenhum rosto, nenhum nome, nada! Como eu queria hoje, ter aquelas fotos e o dedo da tia Paulina me explicando tudo de novo... Com certeza iria descobrir muita coisa que estou querendo saber agora...

Tia Paulina era uma pessoa mística. Tinha um Buda e sempre me dizia para passar a mão na barriga dele. Queimava incenso, então sua casa tinha um aroma característico que eu adorava. E era vegetariana. Ela só comia arroz integral e muitos legumes, verduras e frutas... e suflês. Tia Paulina fazia suflê de tudo que é legume ou verdura. O meu preferido era o de chuchu, que faço até hoje, mas não fica igual.

Outra lembrança que tenho dela: brincar de cavalinho. Tia Paulina ficava de quatro para que eu e meus primos Lili e Günther montássemos na garupa dela enquanto trotava pela casa. Podem imaginar uma velhinha assim? Nessa hora ela era nossa “tia Paulineta”, e nós, inclusive ela, gritávamos e riamos muito. E ela sempre de bom humor, esbanjando vitalidade.

E tem mais. Ela era muito “chique”, conforme podem verificar pela foto. Sempre com roupas bonitas e combinadas. E usava batom e deixava eu usar também, e isso eu – uma menininha – adorava fazer!

Mas tenho boas lembranças dela, também nos momentos difíceis. Sempre que meu pai tinha suas crises (meu pai, segundo os médicos, tinha esquizofrenia cerebral) e precisava ser internado nos sanatórios mais horríveis que se possa imaginar (eles eram gratuitos), e íamos visitá-lo, eu ficava muito chocada (para dizer o mínimo). Um monte de doidos dando voltas, alguns davam medo, outros eram engraçados, mas eu via tudo aquilo horrorizada. No meio dessa confusão, aparecia meu pai, e sua fisionomia não me sai da cabeça até hoje. Tinha sempre um olhar desesperado, como se pedisse ajuda... Vez por outra falava pelos cotovelos, mas na maioria das vezes ficava calado, com aquele olhar que não me sai da memória. Tia Paulina sempre nos acompanhava nas visitas e quando saíamos de lá me dava muita força e atenção. Brincava comigo para que eu relaxasse. De verdade acho que, até hoje, ainda não consegui relaxar dessa experiência repetitiva e terrível, mas sem dúvida, naqueles momentos, sua presença era importantíssima para mim e para minha mãe. Maus bocados.

Gente, vocês não tem noção de quanto amei essa velhinha. Gostaria de poder descrever melhor a pessoa que ela era, para que todos os “sobrinhos” que não desfrutaram de sua convivência pudessem saber que tiveram uma tia-avó daquelas que a gente nunca vai esquecer e vai sentir falta para o resto da vida. Foi muito triste quando sua irmã Bethsÿ veio buscá-la para morar na Holanda.



Isso foi em 1969, eu tinha 14 anos. Tia Bethsÿ achava que Pauline deveria passar o resto de sua velhice junto com os familiares. Todos nós choramos muito na sua partida. Nunca mais a vi. Um ano depois ela morreu. Podia muito bem ter ficado aqui, onde tenho certeza era muito feliz e amada.

Na foto temos: Cornélia e seu filho Armandinho, eu no ombro da tia Bethsÿ, Joana atrás de tia Pauline, meu avó e mamãe.



3 comentários:

Renata disse...

Ai que delícia, teria me identificado muito com a Tia Paulina...budismo, vegetarianismo, massagens..., tudo que eu amo. Adorei conhecer a Tia Paulina! Renata

Groucho Marx QueRoga disse...

QUE DELICIA rever ( na memória ) com ajuda de vocês ...... O Gosto da Geléia de Pétalas de Rosa , que Tia Paulina sempre tinha ..... quando eu ia lá..... O Sabor de sua Lentilha ...... que jamais esquecerei ..... o Carinho que ela sempre tinha para TODOS os sobrinhos .... fossem próximos ( como a SORTUDA DA LENY kkk ) , ou mais distantes ..... como eu , NESTA FOTO ..... no ALTO de minha maturidade intelectual ..... 9 anos de Idade kkkk Impossível , não ficar orgulhoso , de poder fazer parte desta história. Beijos

Unknown disse...

https://www.facebook.com/groups/2250072028538740/

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