quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Liane Hein




(depoimento de Renata Hein)

Tia Liane, irmã do meu pai, minha madrinha querida. Que saudades.


(tia Liane, sua irmã Henny, eu, Mario e meu pai)

Quem conheceu a tia Liane sabe.

Quando ela estava presente todos queriam ficar ao seu redor, porque sua presença era iluminadora e suas palavras inspiradoras. A tia Liane foi a pessoa mais sensata e humana que já conheci. Falava quando tinha algo importante a dizer, senão só observava, e sorria. Tinha uma voz calma e super gostosa de ouvir. Gente, porque era tão bom ouvir a tia Liane falando?

Quem conheceu a tia Liane sabe.

A tia Liane sorria bastante. Mas era um sorriso tímido que passava quase desapercebido. Sorriso meio sapeca, com um jeitinho de menina. Uma pessoa de coração aberto sempre pronta para dar ótimos conselhos (mas só quando requisitados pois NUNCA se metia onde não era chamada). Todos disputando sua atenção. Não sei porque mas nos sentíamos lisonjeados quando o olhar dela era para nós e quando nos dava sua atenção.

Quem conheceu a tia Liane sabe.

A tia Liane casou-se, mas não pôde ter filhos.

Depois de morar muitos anos em um apartamento no Leme (RJ, na Rua Gustavo Sampaio, onde passei muitos Natais e Reveillons e férias da escola) ela e o tio William se mudaram para Niterói (e Dona Ana, sogra dela), numa casa grande, linda (a tia Liane sempre teve MUITO bom gosto).

[Vou imitar minha prima Leny e registrar aqui meu "momento esnobe" - Meu primeiro perfume francês quem deu foi ela. Desde então não quero saber de outra coisa. Minha primeira viagem ao exterior também foi com ela, assim como a primeira vez que vi neve e andei de avião]


Em Niterói, tudo começou muito inocentemente. Ela sempre gostou de animais e eles sempre tiveram um cachorrinho ou outro, mas quando perceberam eram 4 ou 5 cachorros, 2 jabotis e mais de 20 gatos!!! Cada animal tinha um nome e uma história. Quase todos com uma história triste - "encontrei ferido", "estava abandonado", "muito doente", "este escolheu morar aqui", "aquele deixaram na minha porta"...e por aí foi. Fora os cães abandonados que ela alimentava na rua. E a tia Liane cuidava de todos com total dedicação. Fazia panelas e mais panelas de comida fresca para todos. Todos também frequentavam veterinário, eram vacinados e castrados. Converteram a garagem em "gatil", o quintal em canil, alguns felizardos iam para dentro da casa e a partir daí sua vida (e de seu marido - o tio William) foi dedicada aos animais abandonados. Tudo impecavelmente limpo e organizado por ela (à moda Hein) e sempre com muito amor (dava até um ciuminho destes bichinhos sortudos que conviveram tanto com ela).


Quem conheceu a tia Liane sabe.

Depois ela foi morar em Miracema, interior do Rio, de onde veio a família de seu marido que quis se mudar para lá. Levaram todos os bichinhos com eles, e pegaram mais alguns outros. Lá, em frente a casa onde moravam ela plantou uma árvore e continuou se dedicando aos seus bichinhos e ao tio William, que estava muito doente. Tia Liane muito ativa, com aquele corpinho esbelto, aparentava muito menos que sua idade. Nunca a vi como uma senhora de idade. Ficamos tristes quando ela foi para Miracema por causa da distância, mas ela fazia o impossível para estar presente nas datas importantes, viajando horas de ônibus, ou sempre telefonando para bater um papo gostoso. E lá estávamos nós novamente, nos sentindo sortudos e lisojeados por ter recebido um pouco de sua atenção.

Mas quase que de repente ela morreu. Muito cedo.

Quem conheceu a tia Liane sabe.

Na última vez que a vi, lá em Miracema, alguns meses antes de morrer (quando ainda estava ótima de saúde e ninguém imaginava que ela estaria partindo em breve) ela me contou uma história que me marcou. Contou que ficava muito triste porque não conseguia ter nenhuma lembrança de sua mãe, nem mesmo de seu rosto. Ela via fotos (as poucas que tinha) mas não tinha nenhuma lembrança própria, de nenhum gesto ou expressão. Só o rosto da foto. Isto a frustrava muito. Ela tinha sonhos recorrentes que a procurava mas nunca conseguia acha-la ou pensava te-la achado e queria chegar perto e ver seu rosto, mas sempre em vão. (Para que todos entendam melhor, sua mãe - minha avó - morreu quando ela tinha apenas 2 anos de idade, e meu pai, irmão mais velho da tia Liane, tinha 4 anos de idade. A Tia Henny ainda não era nascida, pois foi fruto do 2º casamento do meu avô). Durante esta conversa ela falou muito sobre sua mãe, o quanto sentiu falta de ter tido uma e como queria poder estar frente a frente a ela e olhar para o seu rosto. A Tia Liane já havia me falado sobre sua mãe antes, mas nunca desta maneira. Nesta época a Tia Liane estava frequentando reuniões espíritas e talvez isto tivesse instigado este assunto.
Só sei que esta foi uma da últimas conversas que tive com ela e é uma história que veio a minha mente no momento que eu soube que a tia Liane havia morrido. Pensei nisto o tempo todo durante o seu funeral e penso nisto até hoje. Me ajudou a ficar menos triste com sua partida, pois imagino que finalmente as duas estejam juntas.
Ela merece ter tido este sonho realizado.

Quem conheceu a tia Liane sabe.

Esta é a Tia Liane que eu conheci, e amei.
Renata Hein

5 comentários:

observer disse...

Nossa, Renata fiquei com inveja por não ter conhecido a tia Liane, assim como fiquei com inveja da Leny por não ter conhecido a fofa tia Pauline...

Lindo o seu depoimento. Obrigada por ter nos apresentado a tia Liane de forma tão carinhosa.

Anônimo disse...

Adorei seu depoimento, Renata.
A Tia Liane era assim mesmo iluminada.
Ela transmitia aquela energia positiva que as crianças logo conseguem captar.
Ela não tinha filhos(mas...que contradição),as crianças grudavam nela. Quando éramos pequenas, eu e minha irmã (Renata),ficávamos brigando para sentar ao lado dela na mesa. E que mesa ela sabia fazer..... Só gostosuras finíssimas, em toalhas, talheres e louças brilhantes.
Ela tinha uma combinação irresistível de sofisticação e simplicidade.

Anônimo disse...

...lindas lembraças, Renata, sua " tradução" da tia Liane foi perfeita...com aquele sorriso, ela passava muito da sua alma...convivi muito pouco com ela, mas as vezes que estivemos juntos, o que sentia era só carinho...afeto.
Obrigado, Naldo

Cláu disse...

Que pena que eu não a conheci... aliás, só agora vim a conhecer essa outra parte da família, e estou adorando!

Leny Hein disse...

Ontem quando ví seu depoimento, estava com a Henninha ao meu lado, entao resolví ler em voz alta para ela escutar. Passei vexame pois no segundo parágrafo já nao me saía a voz e rolavam as lágrimas...Mas eu que conhecí a tia Liane sei.
Aquele jeitinho meigo de ser, ela era puro amor e estar junto a tia como bem expressaram meu primo e primas acima, era sempre um momento especial.
Minha querida tia Liane, como você deixou saudades...

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